São Paulo (SP) - O governo do Japão resolveu sair em defesa de suas empresas na crise dos estaleiros brasileiros. Em carta enviada na segundafeira pelo ministro da infraestrutura japonês, Akihiro Ohta, ao ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro, são cobradas providências rápidas do governo brasileiro para "garantir a sobrevivência dos estaleiros".
As empresas japonesas são sócias de três dos cinco estaleiros contratados pela Sete Brasil para a construção de sondas do présal que serão usadas pela Petrobrás. Desde novembro, a Sete suspendeu todos os pagamentos, paralisando as linhas de produção e dificultando o acesso ao crédito. Somente para as empresas das quais os japoneses são sócios, a Sete deve R$ 1,3 bilhão, segundo a carta enviada ao ministro Monteiro. A principal medida requerida pelo governo japonês ao brasileiro é a liberação dos recursos do BNDES para que a Sete Brasil possa pagar os estaleiros. Além disso, pede que financiamentos de emergência sejam concedidos ou que pelo menos os prazos sejam alongados "a fim de evitar a falência dos estaleiros por inadimplência de pagamento salarial dos empregados e fornecedores".
A Embaixada do Japão no Brasil não quis comentar a forma como está negociando com o governo brasileiro, mas confirmou que o governo japonês está prestando "alta atenção às dificuldades do setor e nos estaleiros em que empresas japonesas fizeram investimentos". Informou ainda que tem pedido por "breves e satisfatórias soluções por parte do governo brasileiro". O Ministério do Desenvolvimento, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que não comentaria a questão.
Logo na abertura da carta enviada ao ministro Monteiro, o ministro do Japão faz referência à Declaração Conjunta feita pela presidente Dilma Rousseff e pelo primeiro ministro do Japão, Shinzo Abe, durante visita oficial de Abe em agosto do ano passado. A declaração fazia referência à cooperação entre os dois países para desenvolver a indústria naval brasileira. "Os estaleiros japoneses fizeram investimentos para aprimorar a capacidade da indústria naval brasileira, despachando engenheiros e profissionais qualificados, o que tem contribuído grandemente para o desenvolvimento desta indústria", diz a carta. "Se esses estaleiros entrarem em falência, além da perda de empregos, as tecnologias e experiências relacionadas à construção naval que os empregados e profissionais assimilaram também desaparecem."
A primeira incursão dos japoneses foi em maio de 2012 quando a Kawasaki assinou com as construtoras Odebrecht, OAS e UTC para a formação do estaleiro Enseada. Em junho de 2013, a IHI Corporation, a Japan Gas e a Japan Marine United adquiriram participação no Estaleiro Atlântico Sul, das construtoras Camargo Corrêa e Queiroz Galvão. No mesmo ano, um consórcio liderado pela Mitsubishi assinou um contrato de investimento com a Ecovix (Engevix), que é dona do Estaleiro Rio Grande.
Todos estes estaleiros estão sem receber os contratos que mantém com a Sete, que teve sua crise financeira deflagrada com a Operação Lava Jato. Um de seus diretores fez acordo de delação premiada, revelando que os estaleiros teriam pago propinas para fechar contratos. Este foi um dos motivos que levou a paralisação do processo em que seriam liberados US$ 3,1 bilhões pelo BNDES para financiar o projeto.
Fonte: O Estado de S. Paulo.
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